Devido ao cenário político constantemente agitado e aos recorrentes tumultos socio-econômicos, o povo eslovaco esteve repetidamente desprovido de liberdade ao longo de sua história. Após à Primeira Guerra Mundial, a Eslováquia foi um dos países forçados a fazer parte do então Estado Comum da Checoslováquia, a qual seria posteriormente invadida e desmembrada pelo regime nazista em 1938 para finalmente ser incorporada pela União Soviética em 1945 [1]. A arquitetura eslovaca durante o período socialista é uma manifestação única do pós-modernismo que celebra a intensa industrialização do país na época.
O fotógrafo de arquitetura Stefano Perego fez uma extensa documentação da singular arquitetura eslovaca do período compreendido entre os anos 60 e 80 e compartilhou o resultado com o ArchDaily.
Enquanto uma parcela da Checoslováquia (o Sudetenland era uma região de população majoritariamente alemã no limite da Checoslováquia com a Alemanha, Austria e Polônia) estava sob domínio nazista em 1938, a outra parte restante, confusamente chamada de Tcheco-Eslováquia, permaneceu com uma certa autonomia política, uma espécie de estado fantasma do Terceiro Reich. No início de 1939, após a Alemanha nazista ameaçar uma possível incorporação da Eslováquia à Hungria e a Polônia, o país se viu forçado à separar-se da então Tcheco-Eslováquia e aliar-se à Alemanha. O governo da Primeira República Eslovaca foi fortemente influenciado pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial [2].
A aliança com a Alemanha era inevitável para a existência da Primeira República da Eslováquia, o primeiro estado independente da Checoslováquia. Na época, a oposição à ideia de uma Eslováquia independente era composta de dois blocos principais, um grupo democrático vinculado ao governo checoslovaco e um grupo comunista eslovaco com uma ligação direta com Moscou. As duas coalizões se uniram na revolta nacional eslovaca de 1944, a qual foi duramente repreendida pelas forças alemãs até que forças aliadas soviéticas e romenas liberassem o país em 1945 [3]. O Memorial e Museu da Revolta Nacional Eslovaca em Banská Bystrica, projetado pelo arquiteto Dušan Kuzma, abriga além de equipamentos militares uma exposição permanente sobre o movimento de resistência antifascista na Europa entre os anos 1939-1945.
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o Partido Comunista da Checoslováquia eleito em 1948 (com o seu apoio vindo em grande parte da região checa do país), tornando a Checoslováquia um estado satélite da união soviética. O país foi mais tarde invadido pelas forças do Pacto de Varsóvia, em 1968, trazendo-o sob o regime soviético completo. O fim do regime comunista na Checoslováquia, com uma nova dissolução do país, aconteceu em 1989. Foi exatamente durante esse período que a influência do realismo social soviético marcou profundamente a arquitetura da Eslováquia. A intensa industrialização do país após a segunda grande guerra levou à incorporação de estruturas pré-fabricadas de concreto especialmente em conjuntos habitacionais e edifícios públicos. Em Bratislava, mais de 90% da população vivia em conjuntos habitacionais soviéticos do pós-guerra até o final da década de 1980 [4].
Entretanto, um pequeno grupo de arquitetos se voltaram contra a padronização dos projetos industriais pré-fabricados, defendendo um pós-modernismo "high-tech" [5]. A maioria destes projetos representam o que ainda hoje podemos associar à um cenário de ficção científica, marcando pelos avanços tecnológicos da época e, talvez, pela Corrida Espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos durante os anos 60 e 70.
Um excelente exemplo da influência da arquitetura soviética na Eslováquia é o "OVNI" do arquiteto Juraj Hovorka. O monumento está localizado em uma área chamada Medzijarky, um pequeno parque no centro-leste de Bratislava, construído em 1979 durante o período em que a Eslováquia e a República Checa, ainda como Checoslováquia, estavam sob domínio e influencia da URSS.
Com uma história complexa e muitas vezes negligenciada, a Eslováquia possui uma série de projetos surpreendentes que não apenas refletem seu passado conturbado, mas além disso, fazem parte da história do realismo soviético na arquitetura e do pós-modernismo na Europa Oriental.
Referências:
1. Kirschbaum, Stanislav J. A History of Slovakia: The Struggle for Survival. St. Martin's Press, 2016. Web. 13 Feb. 2018.
2. Ibid.
3. Kirschbaum, Stanislav J. "Slovak Nationalism in Socialist Czechoslovakia." Canadian Slavonic Papers / Revue Canadienne Des Slavistes 22, 1980, 2. Web. 14 Feb. 2018
4. Haddad, Elie G., and Rifkind, David. A Critical History of Contemporary Architecture: 1960-2010. Routledge, 2016. Web. 14 Feb. 2018.
5. Ibid.